5 razões para não confiar na Vale na bolsa

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Desaceleração na China, problemas tributários e na geração de caixa devem trazer dificuldades

São Paulo - Após resultados trimestrais piores do que os anteriores, o desempenho da Vale (VALE3) está desacreditado. “Estamos cada vez mais convencidos de que a Vale continuará a enfrentar dificuldades no desempenho operacional nos próximos trimestres”, afirmou o analista Alex Sciacio, do Santander, em um relatório.

Os resultados trimestrais dão força ao pessimismo. O lucro líquido da empresa ficou em 5,314 bilhões de reais, uma queda de 48% na comparação com o registrado um ano antes e de 21% sobre o primeiro trimestre. A geração de caixa (Ebitda – lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ficou em 10,095 bilhões de reais, 30,3% abaixo do visto no mesmo período de 2011 e 14,8% acima do registrado no início do ano.

As perspectivas também não são boas. Segundo o relatório do Santander, a nova projeção de Ebitda para 2012 é de 19,7 bilhões de dólares, 39% abaixo da anterior. A queda é motivada pelo preço médio do minério de ferro 20% abaixo da estimativa anterior, agora em 120 dólares a tonelada.

A distribuição dos dividendos deve ser menor que nos anos anteriores, devido a uma geração de caixa pior. A estimativa é que a Vale distribua 4,4 bilhões de dólares em 2013 – queda de 27% em relação ao ano anterior.

Levando tudo isso em conta, o Santander revisou o preço-alvo das ações da Vale (VALE3) de 48 reais para o final de 2012 para 44 reais para o final de 2013. O banco recomenda a manutenção dos papéis. O BofA Merrill Lynch cortou na terça-feira passada a recomendação para a Vale de compra para neutra e reduziu o preço-alvo para os papéis negociados em Nova York (ADRs) de 24 dólares para 21 dólares.


Alex Sciacio lista cinco principais motivos para não acreditar que a Vale vá se recuperar na bolsa: baixos lucros, queda na qualidade do minério de ferro em Minas Gerais, problemas de passivos tributários e avaliação pouco atrativa.


1- Lucros menores

“O efeito da queda nos preços do minério de ferro é a maior razão para o rebaixamento de nossas estimativas para o Ebitda da Vale”, diz Alex. O relatório traz uma estimativa de 145 dólares a tonelada de minério de ferro em 2012, e de 129 dólares a tonelada para 2013 – 20% e 16% abaixo das estimativas anteriores, respectivamente.

A desaceleração na economia chinesa pode também afetar a demanda e os preços dos principais produtos da Vale. O país é o maior produtor mundial de aço, uma grande queda na demanda pode afetar o preço das commodities e o volume de vendas da empresa.

2- Qualidade do minério de ferro

Na divulgação de seus resultados do segundo trimestre de 2012, a Vale fez um alerta sobre o aumento estrutural em contaminante no minério de ferro procedente da região de Minas Gerais, devido à um fenômeno geológico devido à idade das minas. A região do Quadrilátero Ferrífero é responsável por aproximadamente 60% da produção de minério de ferro.

3- Problemas tributários

O governo brasileiro multou a Vale pelo cálculo errado dos royalties de mineração (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais – CFEM). O governo cobra da Vale o valor total de 5,6 bilhões de reais por esse motivo, segundo relatório da empresa. A Vale deve anunciar o resultado de sua negociação com o governo e, na opinião do analista do Santander, o valor final pode chegar a aproximadamente 4,0 bilhões de reais, acima da expectativa média do mercado de 1,5 bilhão de reais.

4- Avaliação pouco atrativa

Segundo Alex, o momento operacional desfavorável, somado a um ambiente macroeconômico global em desaceleração e sem catalisadores para a ação, deve empurrar a ação da Vale a ser negociada a múltiplos abaixo de sua média histórica.

5- Restrições de fluxo de caixa

Outro ponto de preocupação é a geração de fluxo de caixa. “Não esperamos que a Vale consiga gerar fluxos de caixa substanciais nos próximos anos”, afirma Alex. O analista acredita que a empresa terá que levantar nova dívida até o final deste ano. A análise do banco considera uma dívida de 4 bilhões de dólares, necessária inclusive para o pagamento de dividendos de 3 bilhões de dólares programado para outubro.

Segundo o relatório, as estimativas e o preço-alvo estão abaixo do consenso do mercado e levam em conta ainda a valorização do real, que pode prejudicar as margens (todas as operações da Vale são em dólar), a falta de infraestrutura do Brasil, que pode ser limitante para o crescimento da empresa e o cenário regulatório mais rígido, principalmente na área ambiental.

Fonte: Exame